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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Estudo aponta cenário de guerra em Fortaleza

Pesquisa mostra uso indiscriminado de armas de fogo e a prática crescente de homicídios motivados pelo crack

O quadro é de guerra, pois a população de Fortaleza está cada vez mais armada diante do acesso fácil e indiscriminado às armas de fogo. A avaliação é do professor Geovani Jacó de Freitas. Ele é dos coordenadores da pesquisa "Cartografia da Criminalidade e da Violência em Fortaleza", um mapa da violência urbana com foco nos homicídios registrados na Capital ao longo dos últimos três anos.

Dados do estudo, divulgados ontem, não deixam dúvidas e ratificam a afirmação do especialista. O percentual de homicídios registrados na Capital cearense com o uso de armas de fogo chegou a 81% em 2007, saltou para 82% no ano seguinte e já alcançou 84,9% em 2009, levando-se em conta o período de janeiro a outubro.

A estatística comprova porque Fortaleza está inserida entre os 10% de municípios brasileiros que detém quase 74% das ocorrências criminais, sendo classificada como um das localidades mais violentas do País.

No mapa dos homicídios no período avaliado, os jovens são o segmento que sofre maior efeito. Representam 61% das vítimas, e 95% deles são do sexo masculino e de baixa escolaridade, sendo alfabetizados ou contando apenas com o Ensino Fundamental incompleto.

Com base apenas nos números computados este ano, até outubro passado, Jangurussu, Messejana e Bom jardim, pela ordem, são os bairros mais violentos, com o registro de 45, 36 e 34 homicídios, respectivamente, no universo de 490 casos. Quando agregadas as comunidades que formam o Grande Bom Jardim, a área passa a liderar a "tabela dos homicídios" em Fortaleza, com 14,49% dos casos. No centro das ocorrências está o narcotráfico, alimentado pelo consumo indiscriminado do crack na cidade. Envolvidos, os jovens se tornam vítimas e algozes.

"A violência se mostra seletiva, remapeando a Capital", afirma Giovani Jacó, apontando para os mais envolvidos, ou seja, jovens entre 15 e 24 anos de idade, do sexo masculino e com baixa escolaridade.

Para o especialista, no âmbito da educação, ganha realce o papel da escola no processo de socialização dos jovens, que poderia reduzir a ação dos narcotraficantes, hoje já ocupando espaços até mesmo dentro de estabelecimentos de ensino. "Em contrapartida, a ausência da educação contribui para a afirmação de padrões de sociabilidade pautados pela violência. O ato de cometer homicídios para obter a droga vira lugar comum", relata Giovani Jacó.

A pesquisa aponta também bairros de Fortaleza sem registro de homicídios ao longo de 2009. Contudo, o especialista atesta: "a cidade está permeada de pequenas e grandes práticas cotidianas que geram violência. Os homicídios são a face visível de tudo isso".

O estudo é resultado de uma parceria entre a Fundação Universidade Estadual do Ceará (Funece) e a Guarda Municipal de Fortaleza. A coordenação é de pesquisadores do Laboratório de Direitos Humanos, Cidadania e Ética e do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e da Violência, ambos da Universidade Estadual do Ceará (Uece); e do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC).

Finalidade

O estudo pretende mapear as áreas mais violentas de Fortaleza, visando à elaboração de políticas públicas de segurança de caráter mais preventivo que repressivo, bem como a avaliação sistemática de suas inserções no espaço da cidade.

Os dados estão sendo discutidos durante seminário iniciado ontem e que termina hoje. O evento leva o mesmo nome da pesquisa e ocorre no Centro de Estudos Sociais Aplicados (Cesa) no campus do Itaperi, da Uece. A ideia é a socialização da pesquisa e a troca de experiências com especialistas na área de segurança pública.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
É preciso apostar forte na socialização

César barreira
Coordenador do LEV/UFC

O quadro em Fortaleza é extremamente preocupante e não se diferencia da realidade brasileira, na qual os jovens morrem cada vez mais cedo, vítimas de agressores também jovens, que se tornam vítimas mais tarde. Eu vejo uma geração traumatizada e com baixa estima que caminha para a criminalidade, sobretudo por conta do consumo das drogas. Como resultado, é impedida pela sociedade de entrar no mercado de trabalho, instituindo-se, assim, a cultura do medo, que cria barreiras sociais e impulsiona a quebra de confiança entre as pessoas e a disseminação da violência. É a criação invisível de áreas nas quais as pessoas consideram que a violência está sempre ao lado. É preciso defender o aumento da tolerância entre as pessoas e o respeito às diferenças, aliada à educação de qualidade para reverter a criminalidade. Entende-se que não se combate violência com mais violência e o uso de armas. Apostem na socialização e no incentivo à cultura de paz. Nesse tocante, é positiva a experiência-piloto "Território da Paz", do Ministério da Justiça, a ser posta em prática no Bom Jardim para reverter os números da violência na área. É importante entender que a educação deve ser a mola-mestra de toda ação.

FERNANDO BRITO
REPÓRTER
fonte:diariodonordeste.globo.com
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