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domingo, 30 de março de 2014

Presos continuam mandando

Crime rola solto com comando, dentro do Cepaigo, via extorsões, tráfico de drogas e assassinatos

Fonte :DIÁRIO DA MANH
Terça-feira. O ponteiro maior do relógio se aproximava do menor para marcar 13h30. E o movimento de pessoas era enorme no 8° Distrito Policial principalmente no gabinete do delegado Waldir Soares, titular daquele local policial. Ele não saiu para cumprir o horário de almoço. Continuava ali acomodado em sua poltrona tendo a sua frente vários tipos de indivíduos, cada um com um problema diferente. E Waldir, atencioso, sorridente e às vezes sério, não parecia insatisfeito. “Estou fazendo o que gosto e exijo competência de mim mesmo. As pessoas precisam de mim. São agradecidas pelo que faço por elas. Também fico agradecido pelo talento que Deus deu-me”, disse ele antes de uma entrevista já agendada. E, finalmente, a entrevista:
DM – Em janeiro, durante uma entrevista ao Diário da Manhã, o senhor enfatizou que presidiários do Cepaigo haviam tomado conta do presídio; continua com a mesma opinião?
Waldir Soares – Com certeza, o crime rola solto. São do interior dos presídios que ocorrem o comando de roubos de carros, tráfico de entorpecentes, extorsões, sequestros, golpes de estelionato e assassinatos. Enquanto o Estado não aplica a pena de morte, hoje de nossos presídios partem ordens de investigação de vítimas (usuários de drogas e traficantes rivais), processam, condenam e executam pessoas. A pena de morte já existe no Brasil, apenas nossos deputados federais, senadores, presidente e esquerda brasileira, não querem vê-la. Preferem ficar atolados na hipocrisia, na covardia, na mentira, sacrificando a sociedade, especialmente nossos jovens que são as maiores vítimas.
DM – Como o senhor analisa tudo isso?
Waldir Soares – O comando dos presídios goianos e no restante do Brasil está no controle de facções e organizações criminosas pela omissão do Ministério e das secretarias de Justiça. Não tem como “tapar o sol com peneira”. O cidadão paga caro por esta estrutura, que está falida. O único que o cidadão humilde, que não tem advogado, tem acesso, ele tem que decidir no calor do embate, do flagrante, ele é fiscalizado pelo Ministério Público, Poder Judiciário, corregedorias, pela OAB, pelas comissões de direitos humanos, pela imprensa e pela sociedade. O delegado não é perfeito, ele erra, ele é humano, ele é policial, mas ninguém é tão fiscalizado como ele.
DM – O Judiciário é quase perfeito?
Waldir Soares – O Judiciário não é perfeito, existem erros, a sociedade sente e paga por esses erros, são poucos, mas são, principalmente, fruto da interferência política no Judiciário. Na lei atual barbaridade é manter um estatuto do adolescente e uma legislação onde um criminoso adolescente responde pelo crime apenas aos 18 anos, com dez ou 11 anos, já transa, mata, rouba, mas é punido com 18 anos. No restante do mundo a idade penal para punição é de 13 anos, quem está certo, o Brasil ou o restante do mundo? Não queremos colocar o adolescente com o adulto, mas puni-lo, em local em separado, com atividade física, estudo, profissionalização, trabalho, religião, atividades culturais, o sistema atual do estatuto está falido.
DM – As regalias não foram suspensas?
Waldir Soares – As regalias são suspensas no sistema prisional apenas quando a imprensa cobra, ela tem sido fiscal mais dura que várias instituições fiscalizadoras.
DM – Como é que a coisa funciona?
Waldir Soares – Os criminosos não recebiam regalias, eles recebem, pagos com o dinheiro do cidadão. Já a família da vítima tem que chorar e enterrar o ente querido, o Estado aparece apenas com a investigação quando consegue chegar na autoria, depois com o processo, mas ao final… A vítima vai ter que pagar o sustento do criminoso que roubou seu patrimônio, estuprou, matou seu ente querido, esta é a legislação atual, com contribuição de nossos deputados federais, senadores e presidente. Somos responsáveis por essa legislação covarde, pois fomos nós que escolhemos esses representantes.
DM – As leis brasileiras estão erradas?
Waldir Soares – As leis brasileiras estão erradas porque elas são feitas apenas para alcançar o criminoso comum, principalmente o pobre. Já os crimes de colarinho branco perdem seu prazo de punição nas delegacias, Ministério Público ou Poder Judiciário, são as artimanhas e fragilidade das leis, o dinheiro faturado muitas vezes na malandragem que proporcionam a ação dos advogados, para manter seus clientes sem punição. A legislação brasileira foi feita com excesso de direitos e regalias para os bandidos e excessivos deveres para o cidadão. Você já viu bandido pagar imposto, taxas. Já o cidadão...
DM – É fácil entrar com celular?
Waldir Soares – É fácil entrar com TV, geladeira, fogão, botijão de gás, basta ter dinheiro ou fazer parte de uma facção criminosa. Os poucos funcionários que facilitam em regra são provisórios, ganham muito pouco, isto não é justificativa para errar, mas se isto ocorre é porque existem falhas, elas devem ser corrigidas, mas isto terá consequências, como rebeliões. Corrigir o sistema prisional e retomar o comando para o Estado tem seu preço, é necessário saber se gestores assumiram os desgastes ou continuaram chutando a “bola pra frente”.
DM – Vivem melhor que se estivesse em liberdade?
Waldir Soares – Os reclusos em nossos presídios continuam com privilégios, tem banho de sol, várias visitas íntimas com mulheres diferentes e até de casas noturnas, tem acesso a uísque, cerveja, mesas de sinuca, futebol, TV, cozinha particular, internet, churrasco. Não são todos os presos, mas aqueles que podem pagar. A droga, celulares e até armas rolam soltos.
DM – Aparecem até mesmo em colunas sociais?
Waldir Soares – Nós sabemos que pessoas envolvidas com o crime não aparecem apenas nas páginas policiais, mas também nas colunas sociais, a Operação Monte Carlo mostrou isto, o mensalão do PT mostrou também o que afirmamos. Vários deputados federais são hóspedes hoje da Papuda, tivemos deputados estaduais envolvidos em escândalos nacionais, vereadores de Goiânia conduzidos pelo Ministério Público. A Operação Monte Carlo mostrou que criminosos mandavam nas polícias Civil e Militar, foram fatos trazidos por toda imprensa nacional, irrefutáveis.
DM – O senhor fala muito no crime organizado...
Waldir Soares – O crime organizado existe, ele convive em nosso meio, nos crimes pequenos como jogo de bicho, máquinas caça-níqueis, mas que geram a corrupção e assassinatos, bem como infiltrado em órgãos públicos municipais, estaduais e federais, com os crimes de colarinho branco. É uma violência silenciosa, mas que destrói e consome nossos recursos para a educação, saúde, segurança e transporte público. Os delitos do crime organizado são principalmente a corrupção, fraudes em licitação, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e de pessoas, assassinatos e jogos.
DM – O senhor concorda com a Lei o Direito Sagrado à Vida. O prisioneiro pensou nisso ao tirar a vida de outro?
Waldir Soares – A Bíblia e nossa Constituição Federal garantem o direito à vida, mas temos várias interpretações, sou defensor da vida, mas existem situações inaceitáveis pela sociedade como no roubo com morte, estupro com morte, sequestro com morte, extorsão com morte, homicídio cruel e no tráfico de entorpecentes na reincidência, esses criminosos não tem recuperação, temos que repensar esses crimes e sua punição, cabe a sociedade brasileira através de plebiscito decidir se quer ou não pena de morte.
DM – O que dizer da competência dos juízes?
Waldir Soares – Em relação à competência dos juízes, é absurdo nossos tribunais continuarem sendo compostos por juízes leigos, temos que acabar com a escolha política nos tribunais superiores, dos Estados e da União, alguns resultados do mensalão demonstraram como é maléfica a escolha política dos ministros. Agora temos várias filhas de ministros nos tribunais superiores que têm sido privilegiadas em acesso, isto é vergonhoso, a submissão do Poder Judiciário ao Poder Executivo.
DM – Facilidade para entrar armas de fogo?
Waldir Soares – Não entra apenas o celular, mas também armas. Podem ocorrer através de visitas ou servidores corruptos. É indispensável um plano de carreiras.
DM – As impunidades continuam?
Waldir Soares – Se temos impunidade hoje é porque nosso sistema não pune o recluso e também não recupera, é uma universidade do crime, a culpa é de nossos governantes, mas quem paga o preço é o cidadão. Os privilégios apenas acabam com legalidade, mudança da lei e coragem na dura corregedoria forte aos servidores.
DM – Tem incompetente ocupando postos de mando?
Waldir Soares – Temos muitos incompetentes em postos de mando. Basta ver a situação de nosso transporte coletivo, da limpeza pública, de nossa saúde, de nossa educação, de nossa segurança, eles são bem pagos para dar soluções aos problemas da sociedade, mas não temos tido soluções efetivas, o que é isto incompetência ou omissão...?
DM – Qual político que não vale uma cusparada?
Waldir Soares – O político corrupto, enganador da sociedade, que pensa apenas em seu bolso e no seu patrimônio particular, aquele que usa a política apenas para interesses particulares e esquece quem o escolheu. Aquele que usa a estrutura do Estado, programas de governo, secretarias e órgãos, funcionários pagos com dinheiro do povo para se eleger, inclusive campanhas antecipadas, vergonhoso, inclusive está acontecendo hoje, com o silêncio de autoridades competentes em fiscalizar.
"O comando dos presídios no Brasil está no controle de facções e organizações criminosas pela omissão do Ministério e das secretarias de Justiça”
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