Que não é fácil a vida de guarda municipal,
isso eu já sabia, afinal são 23 anos de serviço. Porém, desde que participei do
Congresso de Guardas Municipais, realizado em Rio Claro-SP, ocasião em que
conheci pessoas que já militavam por anos e anos e que me motivaram a participar
mais ainda desta luta pelo crescimento, pelo reconhecimento e a valorização das
Guardas Municipais. Foi a partir deste momento que comecei então a vivenciar a
realidade de quem se dispõe a “botar a cara” e entrar de frente nesta luta.
Durante esses anos vi vários amigos sendo, assim como eu, punidos, perseguidos e
massacrados por seus comandantes, que em muitos casos são guardas municipais
como nós, mas que por medo de perderem os cargos que ocupam, muitas vezes sem
qualquer qualificação, mas sim por compromissos de campanha, amizade ou por
seguirem a mesma doutrina religiosa do Prefeito, se sujeitam a praticar essas
covardias contra os próprios colegas. Entretanto, as punições aplicadas com
intuito de vingança, de desanimar ou até mesmo de fazer com que esses
companheiros desistam e abandonem a luta, na verdade só nos encorajam e nos
estimulam cada vez mais a seguir na luta e, além disso, servem como termômetro
para medir o quanto incomodamos aqueles que põem seus interesses pessoais à frente
dos interesses da sua corporação e das Guardas Municipais num todo.
Outra tática utilizada é o oferecimento de
cargos e gratificações na tentativa de fazer com que os outros guardas
acreditem que só queremos levar vantagens e por isso estamos nesse movimento. Mas,
nada disso adianta, pois o maior orgulho de quem participa dessa luta é
justamente não se render e muito menos se vender para aqueles que estão no
poder e que tentam a todo custo manter suas posições. Enquanto
nossos esforços em nos deslocarmos de nossas cidades pagando muitas vezes do
próprio bolso as despesas com passagens, alimentação e hospedagem, para
participarmos e fortalecermos a luta são reconhecidos e até homenageados por
pessoas que estão à frente de instituições de nível nacional, em nossas
corporações a situação é exatamente o contrario, já que a primeira coisa que
perde o crédito perante o Comando da guarda e do Prefeito é a palavra de nós
guardas municipais que estamos participando desse movimento e aí então a
palavra de qualquer um vale mais que a nossa, mesmo que nossa ficha funcional
não contenha a anotação de uma advertência sequer e assim toda nossa dedicação
e tudo mais que tenhamos feito em prol da corporação é esquecido e isso eu
posso afirmar sem medo de errar, pois fui punido (mesmo com 19 anos de serviço sem
ter sequer uma advertência em minha ficha funcional) porque incomodava ao prefeito
e ao comando da guarda com reivindicações em prol da guarda e também com minha participação
em cursos, congressos, seminários, debates e outros eventos e por isso tinha
que ser punido.
Outra coisa muito interessante é o fato de
que os projetos que são apresentados por nós guardas municipais aos seus
Comandantes e aos seus Prefeitos, projetos construídos muitas vezes através de
conhecimentos adquiridos nos congressos, simpósios, encontros e outros eventos,
acabam engavetados, mas depois de algum tempo alguém ligado ao Comando ou o
próprio Comandante, tem uma idéia genial e elabora um projeto que,
estranhamente, é muito parecido com o seu e esse projeto é posto em pratica
rapidamente como se ninguém se lembrasse mais daquele que havia sido
apresentado anteriormente.
Por mais que este movimento busque pura e simplesmente
o crescimento, o respeito e a valorização das Guardas Municipais, em muitos
casos aqueles que dele participam são tidos por seus comandantes e por seus
Prefeitos como alguém que está contra eles e suas administrações. Diante deste
quadro chegamos à conclusão que o crescimento desse movimento e a politização
dos Guardas Municipais é motivo de grande preocupação para nossos caudilhos que
se sentem ameaçados, pois já percebem o risco de terem guardas Municipais
ocupando cadeiras no legislativo e cobrando melhorias para as guardas
municipais.
Para finalizar vamos nos lembrar de Nelson
Mandela, que mesmo sofrendo torturas e permanecendo preso por muitos anos, não
desistiu da luta e ao final triunfou, chegando à presidência de seu país
através do reconhecimento do povo.
Por isso, acredito que devemos valorizar
aos companheiros que já vem há muito tempo buscando o crescimento, o respeito e
a valorização das Guardas Municipais e também àqueles que se juntaram a nós durante
este trajeto, bem como, àqueles que estão chegando agora, pois todos são bem
vindos desde que realmente queiram somar esforços em prol da causa das Guardas
Municipais, porém havemos ter o cuidado de não nos iludirmos com discursos
bonitos, oradores eloqüentes, amigos e defensores que se apresentarão como
sempre acontece em períodos que antecedem as eleições quando muitos inclusive
guardas municipais tentam pegar carona num movimento legitimo e que já existe
há muitos anos e que alguns desses “caroneiros” nem conheciam ou não se
importaram em conhecer ou participar dando suas parcelas de contribuição e
sacrifício, talvez até por não acreditarem em uma vitória das Guardas
Municipais, pois para muitos políticos e aspirantes a políticos nós guardas
municipais simplesmente representamos um expressivo número de votos durante
todo esse tempo pelo qual aguardamos a aprovação de projetos importantes como a
PEC 534 e o PL 1332 (atual PLC 39), por exemplo, que trariam segurança para o desempenho de
nossas funções, bem como, a definição destas funções resultando em melhores
serviços prestados e melhoria na qualidade de vida dos cidadãos a quem
servimos.
Companheiros mais uma vês é chegada a hora
de refletirmos e como disse certa vez o professor João Alexandre do qual tenho
orgulho ter sido aluno na primeira turma
do Curso de Comando realizado no Rio de Janeiro, não podemos nos seduzir pelo “canto
da sereia”.