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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Família desestruturada, juventude perdida

A maioria dos adolescentes e jovens de 12 a 17 anos diariamente apreendidos pela Guarda Civil Municipal e pela Polícia Militar, nos bairros de maior vulnerabilidade social de Sorocaba, é usuário de drogas e utilizam o dinheiro arrecadado para consumir bens de consumo, segundo a avaliação da Diju (Delegacia de Infância e Juventude).

O delegado-assistente João Carlos Pignata informa que só em janeiro, 31 jovens foram flagrados em situações de tráfico de drogas. Para o delegado, a sociedade de consumo, em que o “ter” impera em detrimento do “ser”, a permissividade (tudo pode, sem limites), a desagregação da família, em que os pais ficam ausentes de casa para trabalhar, a pobreza e a falta de oportunidades, são os fatores, entre outros conjugados, que geram essa geração de jovens perdidos. “O jovem diz que trafica para comer, mas é mentira. Entra no crime primeiro por causa da facilidade de acesso e, também, para consumir o que deseja, o que sonha em ter”, diz o policial.

A psicóloga Sabrina Maciel concorda com o delegado, mas é mais enfática. Para ela, o crime compensa para a família, apesar do risco. “O jovem conta com o apoio dos pais, que recebe parte do dinheiro fácil do tráfico. É triste, mas é a pura realidade”, diz ela.

É o menor que mata para não perder a “posse” da namorada, rouba para comprar o tênis de marca ou o celular da moda que viu na televisão, trafica para manter o vício, furta e rouba. 

O caso da jovem Eloá Pimentel, morta pelo ex-namorado Lindemberg Alves Fernandes, não é um exemplo isolado dessa juventude “sem limites”.

Nesta terça-feira (14), foi realizado o julgamento de Daniel Pereira de Souza, 22 anos, acusado de matar com um tiro na cabeça a ex-namorada Camila Araújo, 16, em outubro de 2008. O jovem foi condenado a 15 anos de prisão.

Casos
O crime ocorreu dentro de uma casa em Brigadeiro Tobias. Camila havia terminado o namoro, que durou somente quatro meses, mas o rapaz não se conformou com o fim do relacionamento e tentou reatar várias vezes com ela, sem sucesso. Diante do que considerou um fracasso, foi à casa da estudante com um revólver, rendeu os pais da garota e algumas crianças e trancou todos em um quarto. Na sala, ameaçou Camila, discutiu e disparou contra ela. Os pais, apavorados, saíram do cômodo e viram um desfecho mais cruel: Camila caída e Daniel fugindo do local. Apesar de socorrida, a vítima chegou morta no Hospital Regional. A polícia prendeu Daniel em uma chácara, de posse de porções de maconha e cocaína. 

Na segunda-feira, a GCM prendeu um menor de 16 anos com 11 porções de crack e nove pinos de cocaína no Parque São Bento. Na casa dele, debaixo de um colchão, havia mais entorpecentes. Na tarde de ontem, a PM surpreendeu L.C.S.G. em uma casa do Parque das Laranjeiras. Com apenas 17 anos, comandava a distribuição de cocaína na região.
‘Lindemberg começou a se despedir de nós’Responsável pela negociação com o sequestrador de Eloá, o capitão Adriano Giovanini disse nesta terça-feira no tribunal que, depois de 100 horas, réu deu sinais de que mataria a refém e a si mesmo
Cristina Christiano/Agência BOM DIA
As testemunhas da defesa ouvidas ontem no Fórum de Santo André, ABCD, no segundo dia de julgamento de Lindemberg Alves Fernandes, complicaram ainda mais a situação do réu. “A defesa deu um tiro na cabeça arrolando testemunhas que só vieram a corroborar com as provas da acusação”, comenta o advogado Ademar Gomes, um dos assistentes da Promotoria.

O depoimento mais longo e decisivo foi do capitão do Gate (Grupo de Ações e Táticas Especiais) Adriano Giovanini, que conduziu as negociações durante as 100 horas em que Lindemberg manteve a ex-namorada Eloá Pimentel em cativeiro. “Ele anunciava constantemente que ia matar Eloá e se matar.”

Segundo Giovanini, na sexta-feira – dia do desfecho do caso – Lindemberg falava como se fosse uma despedida. “Ele pedia para eu ir embora, dizendo que o tinha tratado como homem e, por isso, não queria que eu assumisse o que ia acontecer lá”, disse.

Na avaliação de Giovanini, Lindemberg era frio, falava gíria e tinha linguajar de criminoso. “Na quarta-feira, a Eloá gritava e mandava ele matar logo. Liguei para saber o que estava acontecendo e ele dizia que ela tinha surtado”, recordou-se. “Ele agia com firmeza e com total controle da situação”, disse.

O delegado Sérgio Luditza, que na época do crime era titular do 6 Distrito de Santo André, contou que, no dia do desfecho, tudo caminhava para o bem. “Os PMs não tinham providenciado provisão de alimentos para o final de semana porque todos nós tínhamos certeza de que ele ia se entregar. Até um promotor esteve no local e, do próprio punho, escreveu um salvo conduto para o rapaz”, disse.
Interno só é liberado após os 21 anosO jovem participa de atividades socio-educativas na Fundação Casa. Os casos são reavaliados a cada seis meses. O período máximo de internação não pode exceder três anos, manda o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Depois da liberdade semi-assistida, a compulsória é dada aos 21 anos de idade.
225 menores foram apreendidos pela Delegacia da Infância e  Juventude em 2011 pelo crime de tráfico de entorpecentes
Menor não é internado após primeiro atoApós o ato infracional, a autoridade pode aplicar advertência; obrigação de reparar o dano; prestação de serviços à comunidade (PSC); liberdade assistida; semiliberdade ou internação.
Jovem arrecadava mais de R$ 2 mil por semanaL., 17 anos, confessa que lucrava muito com o tráfico de cocaína no Parque Laranjeiras, para sustentar a família e consumir produtos e entorpecentes
Olhar perdido, ingênuo, fala tranquila e mansa. Português correto e olhar direto no interlocutor. Assim é L., 17 anos. Vi o jovem pela primeira vez dentro da viatura da GCM. Réu primário, havia sido aprendido no Parque das Laranjeiras vendendo flaconetes de cocaína.

Fiz aquela pergunta batida de sempre: “Pretende sair dessa vida de traficante?”. Ele respondeu: “Se Deus quiser, sim, pretendo. Faço isso para sustentar minha família. Tenho dificuldades”. O olhar triste e melancólico ficaram na minha memória.

Nesta terça-feira, às 18h15, na porta da Delegacia da Infância e Juventude, o sargento José Roberto Marchetto fala, orgulhoso do dever cumprido, que investigava o jovem há 15 dias. “Em patrulha feita pelo bairro, suspeitamos dele. Falamos com testemunhas e começamos a ficar atentos”, diz. “Pegamos o distribuidor da droga do bairro em flagrante. Ele nos levou à sua casa, onde havia mais de 3 mil flaconetes - no forro, no quarto e em uma edícula”, completou.

O policial explicou como era o esquema: “Ele comercializava cocaína há nove meses. Recebia o entorpecente, preparava e depois distribuía para que os outros vendessem nas ruas do bairro. Tudo muito organizado”, explica.

Tudo de acordo com uma hierarquia. Cada célula distribui um tipo de entorpecente, crack, cocaína ou maconha, para que a polícia não apreenda tudo de uma só vez. E se alguém for pego, é proibido entregar os chefes. “Se ele falar, ele morre”, afirma a mãe do menor.

Quando entro na Diju e vejo o mesmo suspeito da ocorrência de semanas atrás. Ele deu a mesma resposta para a mesma pergunta. “Se Deus quiser, sairei desta vida”, diz. “A carne é fraca”, conclui. 

Com o mesmo olhar perdido, relata o seu dia a dia no tráfico. Afirma que retirava, só para ele, de lucro, pelo menos R$ 2 mil por semana. “Vendia a R$ 10 cada flaconete. De R$ 280 vendidos, entregava R$ 200 para o tráfico e ficava com o restante”, revela. Parte do dinheiro dava para a família. “No Campolim, o lucro é maior. O distribuidor, lá, vende flaconete a R$ 40.”

O perfil de L. bate com o descrito pela psicóloga Sabrina Maciel. “Costumam ser inteligentes, poderiam dar sua contribuição para grandes empresas, mas preferem o dinheiro fácil. Vivem na pobreza e buscam o status de chefiar uma área do tráfico. Ao invés de entrar em uma faculdade e estudar, entram no mundo das drogas”, avalia.

O jovem será encaminhado à Fundação Casa, onde ficar internado por até três anos, segundo delegado João Edson Pignata, da Delegacia da Infância e Juventude. “Fiz isso pela sobrevivência da minha família”, repete o acusado.
Fonte: diariosp.com.br
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