Jovem foi expulso e ameaçou atacar o colégio em Piedade, no subúrbio.
Segundo alunos, pais e professores, ele se dizia ligado a traficantes.
A Escola Municipal João Kopke, em Piedade, no subúrbio do Rio, está com segurança interna da Guarda Municipal após a diretora Leila Soares ser agredida por um aluno na semana passada. Na tarde desta terça (26), um carro da GM permaneceu no pátio da instituição mesmo após o horário de entrada e saída dos alunos. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, a presença da guarda será permanente pelo menos até a sexta-feira da próxima semana, 5 de abril.
Atrás do carro da GM, o muro da escola tinha uma pichação com a inscrição "Bonde do Boldo" – erva cujo nome é usado como metáfora para maconha.
Conhecido como China, o aluno, de 15 anos, imobilizou a diretora, de 43, e lhe deu diversos socos, que fizeram sangrar seu nariz, após ser repreendido por uma "brincadeira" violenta, em que dava uma gravata em um colega. Leila Soares teve a atenção chamada para uma confusão e, quando ordenou que o aluno parasse e voltasse para a sala de aula, levou um empurrão e foi xingada e disse que chamaria os pais do adolescente e a ronda escolar. Ele, então, imobilizou-a, na sala em que ela faria as ligações, empurrou-a contra a parede e lhe deu diversos socos.
Após a agressão, segundo professores, outros estudantes e seus responsáveis, o aluno ameaçou a diretora, dizendo que, se fosse expulso, voltaria para se vingar, prometendo "matar todo mundo", com traficantes do Morro do Urubu, em Pilares, onde ele mora, pouco mais de 1 km da escola, e que é dominado por uma facção criminosa. A Secretaria Municipal de Educação expulsou-o da João Kopke, mas, como não pode excluí-lo da rede de ensino, terá que transferi-lo para outra unidade.
A ameaça espalhou medo pela escola na Piedade. A mãe de uma aluna, que não quis se identificar, contou ao G1 que recebeu "a ligação de uma amiga me dizendo que o aluno que agrediu a diretora é morador do Morro do Urubu e que os traficantes viriam à escola pegar a diretora".
Uma professora do 6º ao 9º ano, que também pediu para não ser identificada, acha difícil que qualquer ameaça de ataque seja cumprida enquanto o caso estiver em evidência. "Se fizerem algo, eles vão esperar as coisas se acalmarem. E a Guarda Municipal não vai ser suficiente para garantir a nossa segurança", disse ao G1 a educadora, que chegou ao local da agressão pouco depois. "Ela [Leila] estava sangrando muito pelo nariz. Enchemos uma lixeira com papéis que usamos para limpá-la", lembra.
Segundo essa professora, outros alunos moradores do Morro do Urubu disseram já tê-lo visto andando na favela "com um fuzil do tamanho dele" e que, no ano passado, sua mãe chegou a ir à escola, desesperada, pedindo para tirar o filho de ligações com o tráfico. "Depois disso, ele parecia que tinha sossegado, mas desandou de novo". Já alunos contam que "China" costumava provocar os colegas de forma violenta, com "marra de bandido" e que dizia ser sobrinho de Anderson Rosa, conhecido como Coelho e apontado como um dos chefes do tráfico local – preso em 2011, ao deixar a Rocinha, responde a diversos procesos por homicídio.
Na 24ª DP (Piedade), o aluno admitiu ter agredido a diretora da escola, mas não disse ter nenhuma relação com o tráfico – também não houve denúncia à policia nesse sentido por parte de nenhuma testemunha. O caso foi remetido à 2ª Vara da Infância e da Juventude.
Defasado
O agressor fazia parte de uma turma especial para alunos defasados em relação ao grau em que deveriam estar de acordo com a idade. Aos 15 anos, ele ainda está no 7º ano do ensino fundamental, cuja faixa etária é de 12 anos.
Fonte: G1
