Os policiais militares de Goianira presos na
quinta-feira na Operação Resgate cometeram crimes ao longo de 13 a 15 anos,
segundo depoimentos colhidos e investigações promovidas pela Polícia Civil,
informou ontem o delegado-chefe do Grupo Especial de Repressão ao Crime
Organizado (Gerco), Alexandre Pinto Lourenço. Eles são suspeitos de homicídios,
tráfico de drogas, extorsão e desaparecimento de pessoas na região de Goianira,
Caturaí, Brazabrantes e Inhumas.
Até agora, 15 mortes e
desaparecimentos já são objeto de inquéritos policiais com indício de
envolvimento dos militares. Na sangrenta lista de vítimas, pode estar o jovem
Israel Tavares, de 21 anos, morto em 2010, em sua casa, na periferia de
Goianira, por três homens encapuzados. Foi enterrado com o corpo marcado por
tiros, um deles no rosto. “Minha vida acabou. Só sinto medo. Arrebentaram o meu
menino e meteram bala nele”, disse Ivone Tavares, mãe do jovem. Também pode
estar na relação de vítimas o jovem Elias José da Silva, de 18, espancado e
baleado perto de sua casa, em outro bairro do município, na região
metropolitana de Goiânia.
Dezessete policiais foram presos
temporariamente na semana passada, mas três já foram liberados. Um dos
policiais conseguiu a liberdade depois de pagar fiança e os outros dois foram
soltos por não prestarem serviços em Goianira, segundo o corregedor-geral da
Polícia Militar, coronel Lourival Camargo.
O número de crimes cometidos na
região pode, no entanto, ser muito maior. Há notícias, ainda não confirmadas,
de outros desaparecimentos e o depoimento de uma testemunha aponta que um
militar da região se vangloriava por ter cometido 56 homicídios, revelou o
delegado Alexandre Lourenço, o que não foi comprovado. No caso dos 15
assassinatos e desaparecimentos de pessoas, no entanto, a polícia diz que já há
várias provas e que a investigação está adiantada.
O delegado Alexandre revelou que a
quadrilha de militares é suspeita de explorar a venda de drogas, cobrança de
propinas e assassinato de quem os devia, oferecia risco de concorrência ou
ameaçava denunciá-los. “Muitos assassinatos foram noticiados pela imprensa
nesse período. Geralmente eram usadas máscaras e a dupla agia em uma
motocicleta. Era a chamada moto-fantasma”, contou. Uma das motocicletas usadas
pelo bando foi apresentada ontem ao Gerco.
CEMITÉRIO CLANDESTINO
Diversas informações têm chegado à
Polícia Civil, dando conta da existência de cemitérios clandestinos onde teriam
sido enterrados corpos de vítimas de extermínio. As denúncias apontam as
proximidades de Goianira e pontos que margeiam o Rio Meia Ponte. Segundo o
delegado Alexandre, ainda não há consistência nas informações, mas elas serão
investigadas. Foi pedido reforço para as escavações e o delegado-geral, João
Carlos Gorski, disse que toda a ajuda necessária será providenciada para
garantir o êxito das investigações.
Mesmo depois da prisão dos
militares, testemunhas continuam recebendo ameaças. Segundo o corregedor-geral
da PM, 16 pessoas estão atualmente resguardadas pelo Programa Estadual de
Proteção à Testemunha, algumas de Goianira, que presenciaram ou têm informações
importantes sobre os crimes. Dos 17 presos, 13 atuavam no Pelotão de Goianira –
8 trabalhavam na própria cidade, 3 em Caturaí e 2 em Brazabrantes.
O corregedor-geral da PM, coronel
Camargo, disse que durante o fim de semana recebeu informação da Polícia Civil
de que testemunhas estariam sendo ameaçadas, e sob o risco de terem suas casas
invadidas. Ele afirma que apurou, mas não confirmou a informação. “Recolhi os
militares que estavam de plantão na cidade. Não existe sequer uma ocorrência
registrada disso”, ponderou. O coronel Camargo lembra que dos 18 militares da
ativa, aproximadamente 5 tinham procedimentos administrativos. Segundo ele,
alguns respondiam a Inquérito Policial Militar (IPM) por suspeita de homicídio
durante atendimento a uma ocorrência (possível confronto).
O corregedor da PM criticou a
prisão dos militares, argumentando que nos pedidos de prisão temporária não há
a individualização da culpa de cada um para solicitação da cautelar. “Em todos,
o argumento é de envolvimento em homicídio, extorsão, formação de quadrilha e
tráfico. Torço para a Polícia Civil formatar provas contra todos, provas
consistentes o suficiente para que possamos tirar os bandidos da corporação, se
for o caso.”
Apesar do elevado número de homicídios
na região, os casos vinham sendo subnotificados e não eram comunicados às
instâncias superiores, como a Diretoria-Geral da Polícia Civil e Secretaria de
Segurança Pública e Justiça. Por este motivo, o delegado e o escrivão da cidade
foram afastados de suas funções durante a operação na semana passada e
respondem administrativamente, na Corregedoria da Polícia Civil, pela omissão
nas investigações.
A cidade está tomada por medo.
Muitos moradores reclamam, inclusive, da postura do delegado Ralph de Melo
Gonzaga, afastado do município após a operação. Alegam que muitos policiais
militares se recusavam a registrar diversas ocorrências, alegando que o então
titular da delegacia local nem iria registrar boletim de ocorrência, para
apurar casos de roubo, tráfico de drogas e agressões.
Números
Veja informações sobre a
investigação em Goianira
■ 15
assassinatos e desaparecimentos são objetos de inquéritos da Polícia Civil
■ 19
militares foram presos temporariamente suspeitos de crimes de homicídio, extorsão,
formação de quadrilha e tráfico
■ 3
militares foram liberados ontem
■ grupo de
extermínio agia entre 13 anos e 15 anos na região de Goianira, Caturaí,
Brazabrantes e Inhumas
Fonte:Radio Rio Vermelho
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