Depois de ser preso por 4 anos e posteriormente inocentado, ex-Guarda Municipal participa da cerimônia de formatura no sábado, dia 18; confira a história de superação e coragem de quem recebeu R$ 19 mil de indenização por ser incriminado injustamente
Ao menos um, dos 35 cidadãos que formarão sábado (18/08) a 14ª turma da Guarda Municipal de Indaiatuba tem uma lista de bons motivos para se sentir orgulhoso durante a cerimônia, que acontece a partir das 8h30, na Praça do Lago: Afonso Lucas Trindade Fernandes. Aos 51 anos, GM de 1989 a 2002, Talinho, como é conhecido entre os amigos, volta para a Guarda depois de amargar um tempo na prisão, passar por várias rebeliões, enfrentar os presídios e finalmente ser inocentado pela Justiça.
São muitas histórias para contar e muita fé até chegar nesse sábado de agosto de 2012. Em 2002, o Guarda Municipal foi preso, acusado por um Guarda Municipal pego durante uma operação da polícia, de furtar armas e munições da Corporação.
Talinho diz que seu nome foi citado apenas para incriminá-lo. Ele foi preso – chegou a passar pelos presídios de Hortolândia, Limeira, Itirapina e Rio Claro; entre outros -- e foi exonerado da GM em 2006.
No total, foram quatro anos preso, afastado da família, privado de ver os filhos crescerem e enfrentando as mais violentas rebeliões nos presídios por onde passou; até ser inocentado pelos crimes de peculato e formação de quadrilha e indenizado em R$ 19 mil pela Prefeitura.
Inquietação
A mente de Talinho funciona rápida. Ele fala ligeiro, senta e levanta o tempo todo, e diz que em sua mente, não param de passar cenas vividas dentro das celas mais violentas da região. Faísca, Marquinhos, Bin Laden e Japonês são alguns dos nomes que aparecem nas histórias de sobrevivência de Talinho.
Preso com o também GM Luciano Messias Leite – acusado do mesmo crime – Talinho foi ameaçado, espancado, transferido e passou por todo tipo de barbaridade ao longo do seu período na prisão. Leite foi libertado um ano e meio antes de Talinho, que permaneceu preso.
Apesar das muitas histórias, Talinho consegue ainda relatar a pior experiência entre todas: a vivenciada no presídio “João Batista de Arruda Sampaio”, no município de Itirapina 2.
Itirapina: o pior relato
Talinho foi transferido para o Itirapina 2 e avisado de que “a cadeia iria virar”, expressão utilizada quando se sabe que vai haver rebelião. Também sabia que havia sido transferido para o local “numa fita marcada” ou ‘bonde’, quando o preso está marcado para morrer.
Eram 1.500 presos, num local em que cabiam pouco mais de 800. Foram 15 dias de rebelião em que todos tentavam quebrar as paredes do presídio para alcançar 40 homens que estavam no que é chamado de ‘Seguro’, local para onde são enviados ex-policiais ou presos jurados de morte. Talinho estava em meio a esses 40.
“Os barulhos ainda estão vivos na minha cabeça; de homens tentando derrubar paredes para nos alcançar e a gente tentando abrir a unha um local para fugir; depois de vários dias, de repente, as paredes caíram e virou tudo uma grande confusão; um dos nossos perdeu a mão e todos os presos partiram para cima da gente! Eram gritos, sangue, tiros, armas improvisada... Houve a invasão da Tropa de Choque da polícia e todo mundo foi parar nu, no pátio. Ali, permanecemos por 15 dias. Lembro de helicópteros sobrevoando o presídio, os cachorros que chegaram a comer a mão de um dos presos, meu rosto ensanguentado, tiros de calibre 12 e todos os presos misturados... Os guardas jogavam fortes jatos de água das muralhas, os cães eram uma ameaça e tudo era uma cena de horror! Depois disso eu ainda fui escolhido com mais três presos para, com a cadeia toda demolida, limpar o local, retirar todo o lixo e o entulho com uma carriola... E essa foi a primeira vez que nos foi servido pão e leite, que eu recusei porque vi que os outros dois precisavam mais que eu”, relata.
A Liberdade
Foram noites sem dormir, histórias de pavor e medo desde que foi acusado do roubo de armas e munição por um GM. “Depois de Itirapina fui transferido para um Centro de Ressocialização; fiquei anos sem ver minha esposa e filhos porque sabia que aquele não era ambiente para eles e que ela acabaria sendo marcada por presos que fugiam, ganhavam as ruas e poderiam ser uma ameaça a minha família; por isso, proibi que ela me visitasse”.
Em Mogi-Mirim, Talinho recebeu a melhor notícia de toda essa história: a de que a família estava indo buscá-lo. “Não acreditei; achei que fosse brincadeira até ver que era mesmo verdade”.
Talinho deixou a cadeia, refez a vida e prestou um novo concurso para a Guarda Municipal em 2011. Mesmo depois de viver tanta coisa ruim, ele diz que está orgulhoso de tudo. “Quero voltar a ser Guarda Municipal; não sou criminoso, não sou bandido e tenho orgulho da profissão; estou e sempre estive pronto”, relata
Os Formatos
A Prefeitura de Indaiatuba é quem promove, no sábado, dia 18, a partir das 8h30, na Praça do Lago, a formatura dos 35 aspirantes da 14ª turma da Guarda Municipal. Também participam da cerimônia outros sete guardas de Elias Fausto. Os 42 formandos participaram do “Curso de Formação em Segurança Pública” realizado pela Coordenadoria de Ensino e Treinamento da Guarda Municipal e que aconteceu durante cinco meses, entre março e agosto.
A formação conta com 800 horas/aula sempre de segunda a sexta-feira, em horários alternados. O curso possui 15 disciplinas, entre elas, funções e atribuições das Guardas Municipais; espaço público, GM e comunidade; movimentos sociais; o uso legal e progresso da força, da arma de fogo e defesa pessoa e relação jurídica do trabalho (direitos e deveres). Também estão incluídas comunicação, informação e tecnologia em Segurança Pública; natação; ordem unida e patrulhamento ostensivo.
Dentro delas estão distribuídas 71 matérias, entre elas: ética, direitos humanos e cidadania; legislação; técnicas e procedimentos operacionais das GMs; noções básicas de primeiros socorros; violência doméstica; homofobia; comunidade escolar; legislação de trânsito; condicionamento físico; emprego de equipamentos letais e não-letais e preservação ambiental.
A formatura contará com a presença de autoridades de Indaiatuba e de Elias Fausto. Também estarão presentes parentes e amigos dos formandos. A partir deste ato, todos os aspirantes da GM indaiatubana são promovidos a guardas municipais de 3ª Classe.
Fonte: Quantanoticia
