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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

As Medidas de Antiterrorismo, a Copa do Mundo e as

Qualquer que seja o país que se proponha a sediar um evento esportivo dessa magnitude terá de enfrentar inúmeros desafios, os quais vão desde providenciar a adequada infra-estrutura de estádios, hotelaria e transporte público, até a implementação de medidas de segurança que assegurem um transcurso tranqüilo para as atividades do evento e a integridade física de todos os cidadãos locais e visitantes que a eles comparecem.

Segurança é primordial e até o encerramento da Copa da África do Sul, era uma grande fonte de preocupação para todas as delegações estrangeiras hospedadas no país. Tais temores, reais e bem fundamentados, envolviam tanto a perspectiva de um atentado do terrorismo internacional quanto às ações de violência, roubo e furto perpetrados pela criminalidade local.
A poucos dias do início da competição um empresário brasileiro foi seqüestrado por uma quadrilha formada por nigerianos e uma oportuna intervenção da nossa Polícia Federal em apoio às autoridades sul-africanas permitiu retirar nosso compatriota do cativeiro ainda vivo e inteiro.
Finda a competição, não nos faltaram informes da ocorrência de pequenos roubos e de significativos furtos de dinheiro e equipamentos eletrônicos, até mesmo em grandes hotéis.

Curioso que quando o Coronel paraense Antônio Nunes, Presidente da Delegação Brasileira na Copa das Confederações, demonstrou a sua preocupação pelas deficiências de segurança com as quais ele próprio se deparou em junho de 2009, muitos criticaram o pronunciamento do militar
que, sem muita diplomacia, mostrava-se efetivamente preocupado com a integridade dos nossos compatriotas naquele país...

No Brasil, nós também temos pela frente o desafio de salvaguardar o público de toda sorte de contrariedades e ações adversas de furto, roubo, violência em geral e terrorismo. Isso, é claro, não se constitui numa tarefa fácil. Mesmo em eventos dessa importância haveremos de nos deparar com suscetibilidades como a visão estereotipada de autoridades (e todo o seu desconhecimento de aspectos técnicos da atividade de segurança); a desmotivação ou a visão preconceituosa de profissionais de segurança que insistem em achar que as mazelas dos outros países jamais nos acometerão no Brasil; a falta de efetivos de segurança; o treinamento deficiente desses profissionais; nosso elevado índice de improvisação, corrupção etc.

Embora realmente eu deva admitir que esse quadro vem se modificando progressivamente, sabemos que a maioria dos nossos concidadãos não tem o salutar hábito da pró-atividade no que tange às questões de segurança; mas, contudo, espera que no final as coisas sempre transcorram bem. Particularmente estou certo de que essa crença cega quanto à nacionalidade do nosso Supremo Criador não ajuda a que as coisas funcionem melhor e não servem de substituto para todas as medidas que deveríamos adotar, de verdade, e sob as mais diversas alegações, historicamente negligenciamos. Na maioria das vezes damos sorte; mas sorte pode acabar sem aviso.
Talvez, para termos certeza de que nada de ruim vai acontecer, só mesmo buscando a boa analogia com o nosso futebol dos áureos tempos e lembrar Garrincha, quando ele ingenuamente perguntava aos técnicos se haviam combinado a estratégia contra quem ele teria de jogar. Não dá para perguntar aos criminosos e terroristas como eles se comportarão e ainda que pudéssemos (e soubéssemos a quem inquirir), seria de um primarismo irresponsável nos fiarmos estritamente na palavra de bandidos.

Melhor será sempre ajudar ao Bom Deus, fazendo nossos deveres de casa direitinho, pois como diversos povos do planeta bem podem afiançar, com terrorismo não se brinca.
Desde os tempos antigos, o terrorismo envolve ações violentas e de natureza indiscriminada; graves, arbitrárias e difíceis de prever. Seus autores, independentemente de etnia ou credo, agem de forma amoral e não apresentam o remorso de buscar alvos fáceis e que lhe proporcionem grande publicidade como a população desarmada, idosos mulheres e crianças.

Modernamente, o terrorismo se constitui numa modalidade de guerra irregular deliberadamente travada contra civis – levada a cabo por grupos organizados, de estrutura hierarquizada e compartimentado em células – com o propósito de lhes demolir a disposição de apoiar líderes ou políticas que os agentes dessa violência consideram inaceitáveis. Embora possamos citar exceções, com assassinos solitários como o Unabomber ou o anônimo cientista do programa de armas do exército americano que em 2001 disseminou Antraz por via postal, o terrorismo pelo mundo vem sendo executado por integrantes de unidades paramilitares, altamente treinadas, bem armadas, com elevado poder de destruição e capazes de desencadear campanhas ofensivas contra nações ou sistemas político-sociais.

Qualquer semelhança com o nosso tráfico não é apenas coincidência. Há muito que nos nossos grandes centros verificarmos a assimilação, pelo tráfico de drogas, da maneira de atuar dos terroristas pelo mundo afora. Tanto o crime quanto os movimentos reivindicatórios, ditos de caráter social, empregam com muita competência modus-operandi terroristas. É fato que ambos os segmentos hoje, com sua dotação de armas, explosivos e táticas, há muito deveriam ser tratados como ameaças de magnitude terrorista. Em muitos países, o simples fato de nos depararmos com um criminoso agressivo portando fuzis militares, já autorizaria a polícia a proceder como que num incidente de terrorismo, neutralizando a fonte de perigo potencial,normalmente com tiros na cabeça!

Aqui no Brasil os riscos do terrorismo internacional e do terrorismo doméstico (basicamente o terrorismo do crime dito organizado) convivem lado à lado. Embora tenhamos violência para impressionar qualquer especialista estrangeiro, não há consenso sobre os conceitos de segurança e nem sobre as ameaças e como tratá-las. Não quero ser repetitivo, reiterando a excessiva ingerência política em questões técnicas de segurança institucional, porém é fato que aqui abundam ameaças não-convencionais como o narcotráfico, o crime organizado e o próprio terrorismo em diversas formas. Nas zonas fronteiriças, verificamos uma ausência do Estado e falta de controle em extensos territórios, favorecendo ao contrabando de armas e drogas, bemcomo ao intercâmbio técnico com organizações narco-criminosas conhecidas como as FARC-EP e o Sendero Luminoso.

Para o terrorismo internacional, países como os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Espanha, França e Israel são alvos que podem ser atingidos em qualquer oportunidade. Isso acarreta risco real para interesses, instalações ou cidadãos desses países no exterior. Em grandes eventos desportivos, cidadãos de países-alvo de terrorismo ficam excepcionalmente mais vulneráveis.

Embora na atual conjuntura avaliemos uma ação do terrorismo internacional contra cidadãos e organismos brasileiros como algo pouco provável, um atentado terrorista externo contra alvos tradicionais, como cidadãos ou instituições norte-americanas ou israelenses (sinagogas, embaixadas, consulados, teatros, eventos) é perfeitamente possível e não pode ser descartado.

Na Argentina, em 1992, o fato do governo local manter boas relações tanto com árabes quanto com judeus, não foi suficiente para impedir a explosão do prédio da Embaixada israelense (que vitimou 30 pessoas). Em 1994, uma nova detonação de bomba, agora na associação judaica argentina (AMIA) também resultou na morte de 85 pessoas e ferimentos em 151 outras.

Nas Olimpíadas de Atlanta, em julho de 1996, uma pequena bomba feita com pólvora e canos (cuja autoria não foi reivindicada por qualquer grupo conhecido ou desconhecido) foi suficientepara matar duas pessoas, ferir mais de 100 e ainda deixar um rastro de insegurança que visivelmente prejudicou a afluência de público aos jogos. A bomba foi colocada no local por um militante racista o qual é hoje hóspede esquecido numa Supermax. Nós, no Brasil, não podemos nos dar ao luxo de sermos atingidos por ações perpetradas por grupos terroristas ou criminosos que ajam num mega-evento que estejamos realizando. Uma ação dessa natureza, cuja ocorrência é perfeitamente factível, acarretaria enormes prejuízos à imagem do país, assim como perdas financeiras de grande monta.

Não podemos descuidar das ações de anti-terrorismo. Elas compreendem medidas de caráter defensivo e preventivas, as quais dizem respeito às atividades de inteligência e contrainteligência voltadas para grupos e atividades terroristas; o desencadeamento de Operações Psicológicas direcionadas para influir no ânimo da população e reforçar-lhe o desejo de se opor aos terroristas; medidas de segurança para dignitários e administração pública; medidas que busquem robustecer a segurança física e diminuir a vulnerabilidade dos locais-alvo; planejamentos e normatização específica de segurança para lidar com incidentes de terrorismo; medidas de defesa civil, conscientização e esclarecimento da população; todo treinamento específico e adestramento de pessoal etc.

Há muita coisa mais para ser feita do que o treinamento das ações de equipes de contra-terror, que sempre oferecem um ótimo factóide para a mídia. Curiosamente a diferença entre o montante que despendemos com grupos de elite e o que gastamos capacitando os firstresponders (que são os policiais comuns, guardas municipais e vigilantes privados) para atuar em face ao terrorismo é desproporcional. Ás vezes acho mesmo que esquecemos a máxima de que a força da corrente de proteção repousa na capacidade do elo mais fraco...
Muitas das medidas e planejamentos contingenciais, se Deus quiser, jamais deverão chegar ao conhecimento do homem comum; contudo devem existir e precisam ser objeto de muito ensaio.

O tempo para implementá-los será sempre mais exíguo e a verba sempre será pouca; contudo o ganho no que tange a melhoria das nossas condições de segurança como um todo, com certeza será francamente compensador!

Vinícius Domingues Cavalcante, CPP, o autor é consultor em segurança e Diretor da ABSEG
no Rio de Janeiro.
E-mail:vdcsecurity@hotmail.com
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